Acordo em Hollywood para acabar com greve de atores
Los Angeles, Estados Unidos
Foto: Getty Images
Atores de Hollywood e grandes estúdios chegaram quarta-feira a um acordo para acabar com a greve que paralisa há muitos meses a produção de filmes e séries nos Estados Unidos e custa milhares de milhões à economia americana, anunciou o sindicato de atores SAG-AFTRA. “A greve terminará oficialmente na quinta-feira, 9 de novembro, às 12h01, horário de Los Angeles”, explicou a organização em comunicado.
Um acordo de princípio foi alcançado após 118 dias de greve dos atores, que exigiam melhores remunerações numa indústria perturbada pelo advento do streaming e salvaguardas em termos de inteligência artificial. O conteúdo exato do acordo ainda não foi revelado, mas “mais informações serão comunicadas” na sexta-feira, informou o sindicato.
Para que grandes estrelas e figurantes retornem ao set e permitam a retomada das filmagens, os 160 mil atores, dançarinos e outros dublês do SAG-AFTRA ainda devem aprovar seu novo acordo coletivo por votação. Um passo amplamente visto como uma formalidade. As negociações com os empregadores ocorreram quase diariamente nas últimas duas semanas, muitas vezes com os CEOs da Disney, Netflix, Warner Bros e Universal pessoalmente à mesa. Porque a necessidade de acabar com este movimento social era cada vez mais premente. Além de uma minoria de grandes celebridades, a maioria dos atores sem filmar achava cada vez mais difícil sobreviver – alguns recorreram a outros empregos. Os estúdios tinham lacunas em seus cronogramas de lançamento para o próximo ano e além. Depois do adiamento de grandes produções, como a segunda parte da saga “Duna” ou a série “Stranger Things”, os estúdios vão agora querer retomar os trabalhos o mais rapidamente possível.
– Crise histórica –
O setor acaba de passar por um duplo movimento social histórico: quando os atores entraram em greve, em meados de julho, os roteiristas já estavam paralisados desde o início de maio. Hollywood não passava por tal crise desde 1960, quando Ronald Reagan chefiou o sindicato dos atores – antes de se tornar presidente dos Estados Unidos. No total, a paralisação do sector nos últimos meses custou pelo menos 6 mil milhões de dólares, segundo estimativas recentes de economistas. Atores e roteiristas compartilharam uma observação: além dos atores famosos e dos “showrunners” famosos, a maioria deles não conseguia mais ganhar uma vida decente na era do “streaming”. Não só porque as plataformas produzem séries com muito menos episódios por temporada do que na televisão, mas também porque a Netflix e outras reduziram drasticamente as receitas devidas a cada retransmissão de filmes e séries. Ao contrário da televisão, onde uma retransmissão pode ser remunerada graças ao modelo publicitário baseado em números de audiência, uma obra transmitida em “streaming” estava sujeita a um pagamento único, independentemente da popularidade do programa.
– Compromisso –
Os estúdios finalmente chegaram a um acordo com os roteiristas no final de setembro e a maioria deles voltou a trabalhar desde então. Mas apesar destes progressos, as negociações com as partes interessadas arrastaram-se. Para quebrar o impasse, as duas partes encontraram, segundo a imprensa especializada, um compromisso sobre o salário mínimo, que deverá aumentar cerca de 8% face ao anterior acordo de três anos: este é o maior aumento em décadas, ainda que permanece abaixo das demandas iniciais dos atores. Do lado do “streaming”, será implementado um sistema de bônus para atores que atuam em séries ou filmes de sucesso. A supervisão da inteligência artificial (IA) foi outro grande ponto de tensão, principalmente na reta final das negociações. Os atores temiam que os estúdios usassem essa tecnologia para clonar suas vozes e imagens para reutilização perpétua, sem compensação ou consentimento. Os estúdios fizeram propostas nesta área, mas o sindicato dos atores considerou que estas medidas não iam suficientemente longe. Nos últimos dias, as duas partes têm lutado nomeadamente sobre as condições que rodeiam os direitos dos estúdios às imagens de atores famosos após a sua morte.