Em entrevista à The Canadian Press, a autora do estudo associada ao Instituto de Investigação e Informação Socioeconómica (IRIS) insiste na necessidade de mudar este sistema que chama de “fracassado”. (Foto: Imprensa Canadense)
É imperativo rever fundamentalmente a forma como Quebec financia e apoia o desenvolvimento de tecnologias de inteligência artificial na saúde, afirma um estudo publicado quinta-feira. Segundo a pesquisadora Myriam Lavoie−Moore, a estrutura atual prejudica as prioridades da rede de saúde.
Em entrevista à The Canadian Press, a autora do estudo associada ao Instituto de Investigação e Informação Socioeconómica (IRIS) insiste na necessidade de mudar este sistema que chama de “fracassado”.
Resumindo, a indústria por detrás da IA serve interesses muito diferentes dos da rede de saúde. Observamos um sério problema de alinhamento entre as reais necessidades da rede pública e das tecnologias.
Na opinião de Myriam Lavoie−Moore, que analisou 312 projetos que obtiveram financiamento público, “estamos a apostar tudo no desenvolvimento de empresas com elevado potencial de crescimento” na esperança de que sejam compradas com lucro por gigantes tecnológicos como a Samsung, Microsoft, Alfabeto ou Oracle.
Para ilustrar o seu argumento, ela sublinha que é o Ministério da Economia, Inovação e Energia que está a pilotar a estratégia de investimento e não o Ministério da Saúde.
Segundo ela, se a rede de saúde pudesse desenvolver a sua própria estratégia e contar com os seus próprios orçamentos, talvez os objectivos pudessem ser harmonizados.
Por exemplo, Myriam Lavoie-Moore fala sobre as muitas tecnologias de análise de imagens médicas. Procuramos desenvolver programas capazes de fazer o trabalho dos radiologistas ao mesmo tempo que são completamente competentes e produtivos. Os verdadeiros problemas são os de acesso a exames e tratamentos, não de análises.
“Não é aqui que as coisas ficam estagnadas em termos de desempenho na rede de saúde”, diz ela.
Outro exemplo marcante é o do Diálogo, que obteve somas significativas para desenvolver um programa capaz de classificar os casos de COVID-19 de acordo com sua gravidade. Ela finalmente falhou. Porém, no momento de investir no projeto, sabíamos que várias outras iniciativas deste tipo tinham sofrido o mesmo destino em outras partes do mundo.
“É muito dinheiro público para desenvolver um projeto que realmente não teve chance de dar certo”, critica a doutora em comunicação e pós-doutora em sociologia.
Em sua análise de centenas de projetos, ela afirma não ter visto ainda uma avaliação real de desempenho que demonstrasse que uma tecnologia de inteligência artificial tenha tido um impacto favorável significativo na rede de saúde.
“Quando priorizamos a criação de unicórnios, como se diz na indústria, priorizamos as proezas técnicas em vez da utilidade para os propósitos do sistema social e de saúde”, lamenta a Sra. Lavoie-Moore.
Assim, insiste na importância de questionar a forma como são selecionados os projetos apoiados financeiramente. Além disso, ataca a estrutura existente onde consórcios privados bastante opacos são responsáveis pela gestão dos fundos públicos.
Consórcios formados por representantes da indústria que se beneficiam diretamente dos mesmos recursos públicos pelos quais são responsáveis.
O pesquisador conclui que as consequências são importantes para o sistema de saúde de Quebec, uma vez que o programa de inovação é orientado de acordo com as prioridades dos gigantes farmacêuticos e digitais e não com as necessidades da população.
Trata-se, portanto, de recursos financeiros preciosos que são desviados de necessidades reais, mas também de tempo, energia e conhecimento que poderiam melhor servir os profissionais de saúde.
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Ugo Giguère, imprensa canadense