Um fenômeno estranho ocorre frequentemente quando se discute com outras pessoas pela primeira vez: a lacuna de apreciação. (Foto: Wocintechchat para Unsplash)
TRABALHO MALDICIONADO! é uma seção onde Olivier Schmouker responde às suas perguntas mais interessantes [et les plus pertinentes] sobre o mundo empresarial moderno… e, claro, as suas deficiências. Marcação para ler o terças feiras e a Quintas-feiras. você quer participar? Envie-nos sua pergunta para [email protected]
P. – “Percebi que quando converso com colegas ou clientes, geralmente saio da discussão com a impressão de que eles são amigáveis e inteligentes, ou pelo menos mais inteligentes e simpáticos do que eu. Daí o meu medo retroativo: isso significa que pareço um idiota aos olhos deles? Como podemos saber com certeza?” – Orélie
R. – Querida Orélie, a verdadeira pergunta que você se faz e, sejamos honestos, que todos nós nos perguntamos, é que impressão causamos nos outros. Boa impressão? Má impressão? Como podemos saber se cada um de nós deve ser educado e cortês na sociedade, e esconder o fundo dos nossos pensamentos, principalmente quando o nosso interlocutor não nos causa uma forte impressão.
ENTÃO? “Missão Impossível”? Esta questão existencial ficará para sempre sem resposta? Talvez não…
Erica Boothby é pesquisadora da Wharton School da Universidade da Pensilvânia, onde ensina a arte da negociação. A sua investigação centra-se nos laços sociais e nas barreiras psicológicas que inibem esses mesmos laços, particularmente no trabalho. Ela se uniu a outros quatro pesquisadores que atuam na mesma área para compilar os resultados de seus respectivos estudos, realizados nos últimos dez anos. Seu objetivo: ver se, por acaso, não haveria um ensino que emergiria de todos os seus estudos, um ensino que só aparecia aqui e ali e que saltaria sobre eles uma vez compartilhados todos os resultados.
A boa notícia é que eles encontraram um. Melhor ainda, este vai lhe interessar muito, Orélie.
Acontece que as pessoas geralmente gostam mais de nós do que pensamos. A análise de dezenas de milhares de observações permitiu que Erica Boothby e a sua equipa chegassem a esta conclusão: “as pessoas subestimam o quanto os outros gostam delas, e este preconceito tem implicações importantes na forma como as pessoas trabalham em conjunto”, observam.
Uma experiência recorrente foi observar o que acontecia quando uma pessoa encontrava outra que nunca tinha conhecido antes: o primeiro encontro com um futuro colega, com um participante de um evento de networking profissional, etc. Os pesquisadores imediatamente coletaram comentários da pessoa em questão e, repetidas vezes, descobriram que as pessoas saíam da conversa com sentimentos negativos sobre a impressão que haviam deixado (por exemplo, “Tenho quase certeza de que gosto mais dele do que ele gosta de mim. “
Em outras palavras, as pessoas subestimam sistematicamente o quanto os outros gostam delas e gostam de sua companhia. E os pesquisadores chamam essa ilusão de “lacuna de apreciação”.
A lacuna de apreciação – as crenças excessivamente pessimistas das pessoas sobre a impressão que causam – não é algo que acontece apenas no primeiro encontro. Na verdade, persiste e permeia os encontros subsequentes, às vezes até muito tempo depois. E isso pode, entre outras coisas, prejudicar as relações no trabalho.
Vejamos um exemplo. Sua equipe tem um novo chefe. Durante seu primeiro encontro com ele, você estupidamente tropeça em uma frase, luta para expressar a ideia que tinha em mente. Você se sente ridículo só por isso. Você está convencido de que ele agora tem uma imagem ruim de você, e esse sentimento negativo o arrastará por semanas, como uma bola e uma corrente, até o dia em que você expressar uma ideia brilhante em uma reunião. O problema é que na verdade o seu chefe nem terá percebido que você gaguejou um pouco na primeira reunião: ele sabe bem que todo mundo gagueja um dia ou outro, e que ‘não tem nada aí’. E você, por causa dessa maldita lacuna de apreciação, sofrerá por semanas e semanas, convencido – erroneamente – de ser visto como um idiota…
Como corrigir a situação? Sim, como podemos parar de ser tão negativos sobre nós mesmos? Os pesquisadores ressaltam que não existe uma resposta simples, mas uma coisa pode ser tentada: desviar a atenção ao conversar com alguém.
“Tente ampliar a pessoa com quem você está falando”, sugerem. Seja curioso sobre ele, faça perguntas e realmente ouça suas respostas.” Porque quanto mais nos concentrarmos no outro, menos pensaremos em nós mesmos, melhor nos parecerá a discussão e menos nossa mente estará inclinada à autocrítica.
Em suma, a ideia é fazer uma escuta ativa, utilizando nomeadamente o método PQR.
– Paráfrases. Parafrasear consiste em reformular com nossas próprias palavras o que a outra pessoa acaba de nos dizer. Permite-lhe acompanhar o desenrolar da discussão e informar o nosso interlocutor que está a seguir o que ele nos diz.
– Questões. Fazer perguntas ajuda a esclarecer certos pontos que podem parecer ambíguos durante a discussão. Eles mostram que você está atento e que está realmente interessado no que a outra pessoa está lhe dizendo. Observe a vantagem de fazer perguntas abertas (que não podem ser respondidas com sim ou não), porque elas o incentivam a explorar o assunto em discussão com mais profundidade.
– Retomar. Assim que o seu interlocutor terminar de falar, você poderá reafirmar a ideia principal, resumindo-a. Por exemplo, usar o início de uma frase como “Se entendi bem, você considera isso (…)”. Este resumo permitirá ao seu interlocutor validar o facto de ter compreendido o que acabaram de lhe dizer. E se necessário, pode ajudar a reacender a discussão.
Pronto, Orélie. Você não é o idiota de plantão, ao contrário do que imagina. E para se livrar dessa má impressão, convido você a praticar a escuta ativa. Isso certamente deveria mudar as coisas.
De passagem, o comediante francês Pierre Dac disse, inexpressivo: “Ouvir os outros ainda é a melhor maneira de ouvir o que eles dizem”.